Lourdes terminou a ligação. Apesar de seu contato ter se tornado esparso nas últimas décadas, ele falou que estava a caminho. Afinal, ela o honrara decidindo que fosse o primeiro a saber de sua escolha. Ademais, a natureza da situação justificava o reencontro súbito, que havia anos pospunham sem motivo. Com um gracejo, recebeu dele as palavras de amor e celebração. Em seguida, Lourdes informou a própria família.
Sua mãe chegou pouco depois, trazendo um bolo de chocolate de dois andares e sucos diversos. Cada uma das tias levou uma torta salgada assada às pressas, que aos poucos se amontoaram na cozinha no ensaio de um pequeno banquete. As primas jovens ofertaram frutas: cachos de uva, jabuticabas e pêssegos importados em calda, os favoritos de Lourdes. À irmã coube trazer o vestido, que até o momento ficara guardado em sua casa. Era de um azul-negro cintilante, como o céu da noite primeva, escolhido havia muito tempo para a eventualidade da ocasião.
À medida que a casa se preenchia com a conversa dos convidados, Lourdes cuidava da decoração. A luz, que antes atravessava livremente os cômodos espaçosos, agora matizava as paredes com a cor das bandeirolas. Das janelas abertas chegava o ruído das pás dos moinhos de vento, metálicas e delgadas, misturado com os sons da fanfarra que despontava no horizonte.